sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mãe

Com a bolsinha e o suco da Cecília.

"[...]Fui uma mãe convencional e eles, filhos convencionais: houve excessos e chantagens de ambas as partes, amor intenso e camaradagem dos dois lados.
Todos deram alegrias, todos deram problemas. Por eles perdi o sono em noites incontáveis, por eles não economizei, por eles faria tudo outra vez. Mas não sei se faria três.
Sei exatamente da normalidade da situação, do quanto todas as mães sentem, umas de forma mais intensa, outras de forma mais velada, a urgência de uma liberdade que sabemos irrecuperável. Trabalhamos, amamos, viajamos, vamos ao cinema, engordamos. Umas arquitetas, outras lavadeiras, umas obstetras, outras biscateiras, mas levamos gravado na testa, somos mães. Mulheres porém mães. Jovens porém mães. Solteiras porém mães. Eternamente mães.
Penso nas que não podem ter as crianças de que gostariam, e nas que foram mães e já não o são, pela brutalidade de um acidente ou de uma doença que as fizeram perder o filho e a condição. Não há consolo para a impossibilidade. Por isso confesso, eu peco, porque tive três filhos saudáveis e desejados, porque nada a eles foi negado, nem saúde ou desamor, e no entanto me pego, distraída, a pensar como seria a vida sem esse legado.
Haverá mãe no mundo que não o tenha, por um segundo, desejado de volta aquele descompromisso por vidas alheias, que não tenha pensado uma vez sequer nos caminhos que poderia percorrer caso não houvesse filhos pra monitorar? Ou sou a mais fria entre as mulheres, ou sou a que pensa em volume mais alto."

(MEDEIROS, Martha. Divã - Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.38)

Estou lendo o livro Divã e me identifiquei totalmente com essa parte.
Adoro ser mãe, minha filha é a minha vida, mas as vezes eu sinto muita saudade de quando eu não era mãe.
Isso não me faz pior ou melhor, me faz ser humana.

6 comentários:

Unknown disse...

Adoro, amo de paixão a Martha Medeiros! Só ela consegue dizer de forma tão bonita e simples, o que vai no coração da gente! Que mulher nunca pensou em como seria se não tivesse tido filhos? É claro que acabamos também pensando no lado ruim disso e que isso é só um pensamento passageiro, mas é uma verdade que poucas admitem e confessam!

Abraços

Juliana disse...

Não tem mesmo que se sentir pior!!! Éramos mulheres antes de sermos mães...Também tenho saudades de pelo menos algumas horinhas minhas... mas estou programando um próximo ano bem diferente...quero a Clara na escola e um tempo só meu... To sentindo falta!

Beijocas!
Ju e Clara

alicecampos disse...

Lindo!

Unknown disse...

Amoreco, tem mais um selinho pra vc lá no blog. Se estiver meio "cheia" de selinho, olha só a postagem, tem um vídeo da Letícia lá.

Beijos

Marla Gass disse...

Nossa, Teh, eu não li esse livro, nem vi o filme. MAs mArthe Medeiros é meio patrimônio cultural de Porto Alegre.
Esse trecho que escreveste é mesmo válido apra toda mãe. Ou, pelo menos, para toda mãe que eu conheço. Humanas, apenas. Tentando ser super, mas só tentando.

Wanessa Borghini disse...

Nossa ler essas suas palavras , tiraram uma angustia imensa do meu coração ! As vezes me sentia a pior mãe do mundo por sentir saudade da minha vida antes do Miguel , faz 03 meses que ele chegou na minha vida sou feliz , mas sinto muita saudade do passado ! Bjooooo