Por: Calu
Quando escrevi meu último post sobre a falta do silêncio e a saudade de mim mesma (aqui) um comentário me chamou a atenção, e me deixou pensando a respeito pelos últimos 4 dias. Ele começa assim:
Acabei de me separar e agora tenho inveja da vida que meu ex-marido leva: ele não precisa ter a responsabilidade de cuidar do filho todos os dias e pode voltar a "ser ele" mais vezes na vida.
Passei os últimos dias relembrando minha vida de mãe em diferentes fases: quando eu estava com o pai dos meus filhos que era muito ausente, depois da separação como mãe solteira de gêmeos de 1 ano e hoje, casada com meu marido que é extremamente participativo. E independente da fase, da condição, do estado civil, uma coisa é fato: o filho é da mãe!
Vamos falar da regra, não da excessão:
Quando um filho fica doente, quem falta ao trabalho?
Quem é mais discriminada no mercado de trabalho pelo fato de ter um filho?
Quem tem o corpo completamente transformado, e os horrmônios alterados pela gestação?
Quem acorda toda noite, de hora em hora porque "eu tenho que trabalhar amanhã" e "você fica em casa o dia inteiro"?
Quando um filho tem um pesadelo ou está doente, por quem ele chama?
Pra quem a escola liga em caso de emergência?
Com quem os filhos ficam em caso de separação?
A resposta para todas essas perguntas é a mesma! A mãe.
E muitas vezes isso é um peso sim, não só para quem se separou. É claro que mães solteiras ou separadas carregam um fardo maior, mais difícil. Mas independente de quem é o pai do seu filho - e que será pai para sempre, independente do que aconteça - não tem comparação o papel da mãe e do pai no dia-a-dia de um filho.
Não estou entrando no mérito de formação de caráter, de valores, nada disso. Meu ponto aqui é baseado no comentário da Fabi. A Responsabilidade de criar o filho, é da mãe! #Fato
Para quem é casada, quantas vezes você já não se pegou numa situação com filho chorando, fralda suja, cachorro precisando passear, telefone tocando, etc e você olha pro sofá/varanda/cama/rede e seu marido tá lá.... como se tudo estivesse em paz cochilando/vendo tv/lendo/tomando cerveja/no computador? E tudo que você consegue pensar é: "Não é possível! Eu não acredito que esse folgado está vendo que eu tô precisando de ajuda e não tira a bunda do sofá!" ou então: "Ele faz de propósito. Só pode ser! Vamos ver até onde ele vai."
Eu entendo exatamente o sentimento da Fabi, porque passei por isso. Inclusive enquanto estava com o pai dos meus filhos: que injustiça ele poder fazer happy-hour, viajar, seguir a vida e eu ter que ficar em casa com o pijama sempre golfado. Graças a Deus minha separação foi muito tranquila em relação a sentimentos. Os dois queriam seguir rumos diferentes, então não teve traição, mágoa, alguém querendo voltar. Mas eu tive essa inveja que a Fabi fala. Claro que eu tive! Eu tinha que morar num apartamento de 3 dorm. com playground, infraestrutura para crianças e rede nas varandas enquanto ele podia morar num loft novaiorquino descolado sem grandes despesas ou compromissos.
Me sentia injustiçada. Achava isso um absurdo: eu não dormia, eu não tinha fim de semana, eu não podia me dar ao luxo de escolher se ia pegar eles ou não, não jantava fora porque eles dormiam cedo...
Até que um dia eu enxerguei o Bônus que vem com tudo isso:
Quando eu penso no "tamanho" que é EU ser responsavel pela existência de dois seres humanos, que um dia serão duas pessoas com historia, caráter, valores, moral... e vão ser resultado direto de mim, do que eu faço. Eu estou acompanhando e moldando dois seres humanos desde o útero, de uma maneira que pai nenhum jamais vai poder experimentar!
Eu olho para minha própria história e vejo o "peso" que minha mãe teve na minha formação e na minha vida, e tem até hoje, e penso que é exatamente isso que eu sou e serei para eles. Esse é o "peso" que eu tenho na vida deles.
E eu penso que com o ônus da anulação de muitos papéis na nossa vida, vem também o bônus de poder estar lá, presenciando esse milagre todo dia. Coisa que eles muitas vezes não tem ou não querem. No fundo, a inveja deveria ser no sentido contrário, Fabi.
Pense em tudo que os pais perdem com a ausência: os detalhes, as pequenas coisas, cada descoberta nova, o sorriso quando te vê logo cedo, o faz de conta, os segredos trocados na hora de dormir, as tiradas engraçadas que nos fazem gargalhar mesmo nos piores dias, os apelidos só nossos, as piadas bobas, o pesadelo que só acalma quando pegamos no colo e damos um abraço e tudo fica bem. Os sonhos que eles contam ainda descabelados assim que acordam.
De repente eu vejo que isso é muito maior do qualquer outra coisa mundo! Torna todo o resto banal e desimportante...
Para ler mais sobre o assunto:
post da @micalmartins: participação do pai
Para ler mais sobre o assunto:
post da @micalmartins: participação do pai
Retirei esse post do blog Mulher e Mãe. A Calu falou tudo, é como eu me sinto as vezes presa em uma ilha chamada Cecília, onde essa ilha só pode contar comigo para limpar e cuidar, onde eu não tenho outra pessoa pra dividir as responsabilidades, mas essa ilha é minha e graças a mim ela contuará sempre linda.
Um comentário:
Falou tudo mesmo esse texto. Me senti várias vezes com esse ônus, mas o bônus é só nosso, das mães.
Beijos.
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