segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Quarentena - depois que o bebê nasceu, e agora?‏

A tal quarentena
O bebê nasceu e o seu corpo passa por novas transformações, tudo para retornar à forma de nove meses antes... Saiba o que acontece nesta fase e os cuidados necessários para viver um pós-parto feliz

Cáren Nakashima 


Quarentena, resguardo, dieta... Esses são os “apelidos” do puerpério – etapa da vida da mulher que se inicia logo após o parto. Ao contrário do que se pode imaginar, esse tempinho não requer repouso absoluto e, sim, cuidados e muito carinho. Não há uma fórmula precisa, uma equação ou o timing perfeito para todas as mães retomarem suas atividades. O que existe são mulheres diferentes. Mas damos uma mãozinha para você entender melhor o que está acontecendo neste período e esclarecemos as principais dúvidas.
'O que acontece com o seu corpo'
Durante a gravidez o volume do seu sangue aumenta em cerca de 50% - para nutrir o pequeno em formação dentro de você, irrigar os órgãos... Quando o bebê nasce, a quantidade de líquido circulando pelo corpo está acima do normal, bem como o tamanho do útero. Por isso, o inchaço – principalmente da barriga e dos membros inferiores – é perfeitamente normal. Os músculos da região abdominal estão mais “frouxos” e para quem se submeteu à cesárea, há ainda modifi cações nas faixas de sustentação do intestino devido à intervenção cirúrgica. É claro que tudo isso vai voltar ao estado original. É só uma questão de tempo e alguns cuidados.

'Um alívio para o inchaço'
Em aproximadamente duas semanas o líquido excedente vai embora pela urina. “Para contribuir na eliminação do inchaço a mulher pode elevar as pernas na altura do quadril e diminuir a ingestão de sal na dieta”, recomenda Otávio Fraige, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz, de São Paulo. Embora pareça tentador, os medicamentos diuréticos estão terminantemente proibidos pois “podem interferir, inclusive, na quantidade de leite”, adverte o médico.

'Número 1, número 2'
Segundo Zlotnik, quem se submeteu à cesárea pode perceber uma demora maior no funcionamento do intestino. “Nesse caso, costumo receitar medicamentos naturais para que a evacuação ocorra normalmente”, completa Fraige. Também vale priorizar a alimentação com fi bras e verduras, além de muita água. Quanto ao xixi, muito vai sair, para eliminar todo o líquido excedente.

'O papel da amamentação'
O aleitamento materno é importantíssimo para que o útero volte ao tamanho normal. “O hormônio ocitocina, que é estimulado com a amamentação, age fazendo a contração do órgão”, explica Zlotnik. Segundo o médico, pode ocorrer um pequeno sangramento no primeiro momento da mamada, mas ele logo cessa. O ginecologista e obstetra do Hospital Neomater (SP) Jorge Naufal completa: “É um duplo mecanismo de proteção: os vasos sanguíneos estão entre os músculos do útero que controlam o sangramento com as contrações. O útero deve voltar ao tamanho normal em cerca de 30 dias.

'Sangramentos acontecem'
Após o parto, ocorre a loquiação – eliminação do resto do tecido que fi ca entre o útero e a placenta, que foi retirada. Esse resíduo se desgruda em 30 ou 40 dias, depois disso, a secreção cessa. “Começa com uma cor avermelhada, até fi car amarelada. Não é um corrimento e é necessário usar absorventes”, esclarece Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do Hospital Albert Einstein (SP).

É verdade que com a perda de sangue no pós-parto a mulher pode fi car anêmica?'
A anemia só ocorre caso esse quadro tenha se apresentado durante a gestação. Segundo Otávio Fraige, o bebê “suga” os nutrientes da mãe mas tudo é controlado durante o pré-natal, com hemogramas e outros exames. Caso haja a necessidade de reposição de ferro, são receitados suplementos para contornar a defi ciência. “A mulher perde, em média, 1 litro de sangue na cesárea e 500 a 600 ml no parto normal. Levando em consideração que o volume de sangue aumentou muito, essa perda é insignifi cante, então a anemia pós-parto é atípica”, explica Eduardo Zlotnik.

'Aguarde para malhar'
Provavelmente a “recém-mamãe” nem terá pique e tempo sufi cientes para entrar de cara na malhação. De qualquer forma, Zlotnik costuma liberar suas pacientes para atividades físicas leves depois de 30 dias, o tempo ideal para os tecidos cicatrizarem. Otávio Fraige diz que costuma marcar o retorno de todas as mamães ao consultório um mês depois do nascimento do bebê para avaliar as condições de cada uma. “Também é preciso avaliar se o útero voltou ao normal”, diz. Então, o médico recomenda caminhadas e até musculação (com pesos leves, hein?) para tonifi car os músculos. Os esportes coletivos e as atividades mais intensas devem ser liberadas depois de dois meses, porém, durante a amamentação, fi que atenta. “Exercícios aeróbios muito intensos podem diminuir a quantidade de leite devido à desidratação que provocam”, adverte Fraige.

'E a cicatrização?'
Enquanto no parto normal há apenas a cicatrização do corte feito para facilitar a passagem do bebê pelo canal da vagina (episiotomia) “realizado com pontos absorvíveis, que caem em uma semana”, segundo defi nição de Otávio Fraige, quem passa pela cesárea deve esperar de 12 a 14 dias para retirar os pontos da cirurgia. Enquanto isso, siga as orientações do médico e apenas lave o local com água e sabão neutro. “Hoje as incisões são feitas com pontos intradérmicos, que não requerem soluções tópicas”, explica o médico. E evite movimentos bruscos. Nada de mudar aquele vaso enorme de lugar!

'Questão de estado espírito'
Nem pense em fi car deitada esperando o puerpério passar. “É importante que a mulher saia de casa, evite tensão e fortaleça os laços familiares”, sugere Zlotnik. Tudo para evitar a temida depressão pós-parto ou qualquer melancolia que pode ser prejudicial nessa fase de adaptação. Segundo o médico Jorge Naufal, o apoio da família e dos amigos próximos é imprescindível. “O blue baby – depressão moderada que dura cerca de uma semana – atinge 40 a 80% das mulheres por conta do esgotamento físico, da pressão da nova rotina...”, explica. Saia dessa! Coloque um sorriso no rosto e comemore a vitória de ser mãe.

'Espelho, espelho meu'
Se você ouviu a sua avó dizer que não pode lavar os cabelos durante a tal quarentena, isso é mito. “O que ocorre é o efúvio – queda capilar acentuada, que acaba quando os hormônios se estabilizam, geralmente depois de 30 a 45 dias após o fi nal da amamentação”, conta Zlotnik. A drenagem linfática também pode ser mantida, principalmente para quem se preocupa com o inchaço da barriga. Sobre o uso da cinta, Fraige é enfático: “ela não é obrigatória, mas as condições do pós-parto somadas a formação de gases incomoda.” O médico orienta às mamães gordinhas usarem o aparato após o funcionamento do intestino. “Já quem engordou apenas de oito a 12 quilos não precisa usar, mesmo porque ela pode gerar um certo desconforto”, ilustra.

'Entre quatro paredes'
As mudanças hormonais, assim como a pausa nas transas do fi m da gravidez somada aos 30 dias de resguardo recomendados acarretam algumas modifi cações no corpo. “A vagina fi ca levemente atrofi ada e mais seca, por isso as primeiras relações sexuais são incômodas”, explica Fraige. A libido pode diminuir, no entanto não é uma regra. Então, esqueça o Kama Sutra. A ordem é retomar a rotina sexual devagar e com bastante carinho. Se preciso, lance mão de géis lubrifi cantes à base de água. Isso vale tanto para quem teve parto normal quanto para quem se submeteu à cesárea.

'O cardápio do puerpério'
Os especialistas mantêm a mesma dieta indicada no pré-natal no período pós-parto. “A mãe deve evitar massas, doces, frituras e comidas gordurosas. Tudo visando os nutrientes necessários para a alimentação do bebê por meio da amamentação”, aconselha Naufal. Em alguns casos, há a prescrição de suplementação vitamínica, mas ela deve ser sempre orientada pelo obstetra.

'Quanto tempo?'
Confi ra, em média, em quantos dias você poderá voltar a:
Dirigir (exceto viagens longas) - 21 dias
Fazer caminhadas - 30 dias
Praticar musculação leve - 30 dias
Fazer esportes coletivos - 60 dias
Ter relações sexuais - 30 a 40 dias

'As fases da quarentena'
O ginecologista e obstetra do Hospital Neomater (SP), Jorge Naufal detalha o período pós-parto. “A quarentena é iniciada no momento da retirada da placenta e pode ser mediada”, como explica a seguir:

As primeiras 24 horas – É o período crítico, quando pode ocorrer hemorragia, alterações de pressão ou o útero não dá sinal de retração. A mãe fi ca em observação na maternidade.
10 dias após o parto – Chamado puerpério imediato, é quando todos os órgãos que foram “empurrados” pelo bebê e pelo útero voltam às suas posições originais. A última a sofrer descompressão é a bexiga pois o útero ainda está contraindo e só voltará ao tamanho real entre três e seis meses.
40 a 45 dias após o parto – O útero ainda está em fase de “limpeza”, expelindo o restante das secreções. Vale lembrar que enquanto há sangramento existe o risco de infecção, mesmo que pequeno. Esse período é denominado puerpério tardio.
6 meses após o parto – As restrições acabaram, o pós-parto também. Chegou a hora da primeira consulta ao ginecologista após as visitas terem sido exclusivamente ao obstetra.

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